É HOJE OU NUNCA

12-09-2011 10:20

 

É HOJE OU NUNCA!

Não tem mais desculpa adiamento e conversa, DODORA a troncos e barrancos monta um blog para mim, e eu tenho que escrever... Começar o meu exercício da escrita da memória e lá vai; primeiro me adaptar ao que venho relutando ao longo dos anos o computador  e a possibilidade de  mil  e uma peripécias que ele oportuniza, eita mundo de meu Deus!

Nasci no ano nove dos anos  quarenta do  século passado , no alto Oeste do Rio Grande do Norte, precisamente na tromba do elefante –forma do nosso mapa - numa cidade que distava noventa léguas da capital, que tinha dois heróis de guerra . Sipaúba preto, alto, magro, nervoso, escapara da guerra do Paraguai e o soldado da policia militar Félix ainda na ativa e morto no confronto FONTES e NUNES entre a praça e o mercado publico nos idos de cincoenta;  ironia do destino ,escapar do front italiano da segunda guerra mundial e morrer num tiroteio na sua terra. ...

Meu pai Francisco Patrício Figueiredo viera a Luis Gomes substituir Julio Germano da Silveira que trabalhava no fisco. Tinha vinte sete anos bonito, solteiro, de boa família da cidade de Alexandria, distante seis léguas, enamorou-se de mamãe a bela serrana de dezessete anos. Contou-lhe que pedira a Deus, que lhe revela se em sonho a mulher com quem casaria e havia sonhado que ela se chamaria Terezinha Gomes. Mamãe se chamava Terezinha Zélia de Jesus ele deduziu que o nome sonhado se referia a própria com o nome pessoal e da sua cidade. Cazaram-se nos festejos de Sra. Santana  nossa excelsa padroeira de mil novecentos e quarenta e oito pelo Padre Miguel Guimarães Nunes ao lado de outros casais .  Mamãe que não tinha condições de um vestido rico inovou vestindo manga três  quarto e na metade da perna. Papai de pé a ponta de branco, mesma cor que Patrício Filho usaria no seu casamento com Gema. A mãe da noiva vovó Regina em casa, sentada numa rede branca, esperava   a filha para a benção   . Vovô Procópio, comprou um saco de laranjas que junto com o almoço deleitaram os convivas. O meio de transporte usado para a mudança da noiva e vinda e ida dos familiares do noivo foi carroceria de caminhão.

Moraram em Alexandria e, depois em Tenente Ananias na época Ipoeira. Quando se aproximou o meu nascimento,  papai resolveu que eu nasceria em Luis Gomes, pela proximidade de Uiraúna PB onde residia o médico amigo Osvaldo Cascudo. Para isso alugou a casa que pertencera a Maria Augusta, irmã de madrinha Nanú,  filhas  de tio Joca e Mariinha  , que no auge da sua beleza fora ceifada por uma tuberculose.

Nasci às onze horas, terça feira do dia vinte de setembro de mil novecentos e quarenta e nove. Parto normal, assistido pela parteira Maria Ferreira Mamãe teve um resguardo de quarenta dias a base galinha parida_

RECEITA

Uma galinha caipira
Sal
Pimenta do reino
Urucum
Alho
Uma folha de louro verde ou seca
Cebola
Tomate
Pimentão
Coentro e cebolinha


Modo de fazer

Lave a galinha cortada nas juntas, tempere-a com temperos secos socados no pilão esfregue bem e ponha para refogar com celola tomate e pimentão. Acrescente bastante água e deixe a galinha cozinhar em fogo lento.

Quando cozida acrescente o coentro e a cebolinha.

ARROZ

Lave e escorra o arroz.  Ponha  para cozinhar com água e sal , acrescente o caldo da galinha quando estiver pré-cozido; caldo suficiente para o cozimento total.

Pirão

Ponha o caldo da galinha para ferver e vá acrescentando a farinha e mexendo para não embolar.

Serve-se quente,  fazendo-se covinha no pirão com a colher e preenchendo-as com a gordura da galinha. Refaço sempre essa receita  para deleite dos   meus começais. Mas infelizmente eliminando toda gordura. Maldito Colesterol!_aos cuidados de mãe Elvira mulher

de Manoel Florentino de Andrade, o querido Poeta, pais de Rivadalva Florentino de Andrade, que partilha  nossas alegrias e tristeza desde que veio com igual fim cuidar de mamãe e Regina a quase meio século quando morávamos em Mossoró  pela segunda vez.

Meu enxoval, cueiros, toucas, camisinhas, sapatinhos, casaquinhos de tricô e bordados com primor e zelo, e para completar uma rede ¨frocada¨ de rozinhas cor de rosa, entrincheiradas de três e três dedos bordada por tia Cássia.

A roupa defumada com alfazema distribuía o seu cheiro pela casa.

Defumação

Uma colher de sopa de alfazema seca
Uma colher de chá de açúcar
Uma vasilha pequena com brasa a quem se adiciona a alfazema e o açúcar.
 Cubra com um balaio e estenda sobre ele a roupa a ser defumada.

A visita servia-se de café e licor de jenipapo,  feito por papai que trabalhara numa fabrica de bebidas em Alexandria e Campina Grande PB.

Não nasci bonita, para desgosto de mamãe e, mas ainda de tia Cássia que me descreveu assim: Cabeluda, duas boticas de olhos, dois buracos de venta, boca de légua e meia, rosto de bola enfim bicho feroz.

O nome seria uma artimanha de mamãe, que com medo de papai querer homenagear Joaquina sua mãe que morrera em abril do mesmo ano inventou uma promessa com Nossa Senhora do Perpetuo Socorro.

Meu pai inquirido por mim muito anos passados, me disse que ao contrário de todos me achou linda.

Fui registrada por ele que para minha supresa não atentou para o fato que na  minha filiação foi grafado o nome de mamãe Terezita, como era chamada na sua cidade e pela maioria das pessoas no decorrer de sua vida hoje oitenta e dois anos. Este fato se repetiria em mil novecentos e cinqüenta e dois em Alexandria no registro de Graciete.

Quando mamãe regressou para Tenente Ananias, conforme me foi relatado por minha amiga D.Ana Fernandes_ Ana de Zéu- que incidentalmente vira da janela o seguinte quadro Zé Procópio a cavalo com uma tipóia no braço e um guarda chuva para proteger do sol carregava  a primeira neta. Mamãe com uma roupa de amazona feita por  sua cunhada Eliza, viajava de silhão.

Fui batizada em Tenente Ananias, pelo padre Herisberto alemão da congregação da   sagrada  família,  pároco de Alexandria  de quem  Ipoeira era distrito e capela. Meus padrinhos foram DEODATO e CHIQUINHA proprietários das terras do Fidalgo e que haviam cedido sua casa em Alexandria para o então jovem casal,  foram representados pelo casal Dr. Vieira e Inês que era minha madrinha de consagração,  para me apresentar tia Cássia . Nesta época a criança ficava nos braços da madrinha de apresentação, segundo tia Cássia a roda do batizando era composta era composta trinta  ou mais crianças  e ela  coitadinha ficou com os braços imobilizados e teve febre a tarde toda por conta do esforço feito.

Fui uma criança bem cuidada e amada pelos meus pais familiares e afins, o que não impediu de ser o sobejo da morte na primeira infância. Não fora uma volta a Luis Gomes aonde cheguei de pescoço escangotado, encardida e sem forças e quando passei a ser o grande amor da minha avó, que não resistindo à apresentação de mamãe que lhe disse  mamãe essa é sua netinha, abençoe-a. Desde esse instante abriu-me o coração,  onde me aboletei para sempre.

Graças a Melania, mulher de Camilo Soares e mãe de Salete a que era chamada de ¨Bulã ¨que ao ver-me naquele calamitoso estado disse Terezita  não fique com raiva, mas essa menina só escapa se tomar leite de peito dito e feito; tia Cássia ganhou a rua e descobriu todas as mulheres que amamentavam.  A troca de rapadura passei a deleitar-me com o leite arrecadado de acordo com a produção de cada uma, numa variação de dois dedos  a copo. Quando perguntada se queria mais a cabeça num meneio  afirmava sim. Depois desta fase e graças a esse leite abençoado  passei a gozar de uma saúde a toda prova, vida  a fora. Grata tenho  a felicidade de ainda hoje abraçar mãe Lucilia Fonsêca com mais de noventa anos e estender minha gratidão a estas mães de leite. Uma vez Basa que viveu mais de cem anos como minha tia Santa Rosa, me disse que bebi do leite dela, o que pode ter acontecido, pois embora  seu filho caçula Paulo seja, mas velho de que eu, algumas mães  amamentavam os filhos até seis ou sete anos.

Em Tenente Ananias mamãe  recebeu a visita de suas tias maternas madrinha Chiquinha Rosa moça velha  e Elvira  conhecida por  Poti  viúva  , com quem convivi muitos anos . Vieram a pé, com um jumento que carregava a bagagem e com um bastão alto para o apoio. Ao ver-me engasgando madrinha como era chamada prometeu-me uma medalha de São Braz para me proteger dos males da garganta. Não pode cumprir a promessa, pois morreu. Mamãe passou muito tempo com a sensação de sua presença.  Angustiada rezou para ela dispensado-a da promessa.

Na nossa casa de Ipoeira , enquanto seu tio  Osvaldo Cascudo receitava, ficava com mamãe o menino Jorge Ivan filho de sua Irmã Ozelita e Adolfo, que foi prefeito de Uiraúna PB. Mamãe dava-lhe banho comida e o botava para brincar ou dormir.

Quando do entêrro de papai, ao saber por Dehuel Diniz cunhado de Celene minha irmã, que ia para o sepultamento de Chico Patrício, acompanhou o amigo ao cemitério da saudade em Natal onde abraçando mamãe recordou as gentilezas e o conforto que lhe era proporcionado pelo casal  e , ainda disse ¨fui prefeito de Natal e você nunca me procurou nunca me pediu nada. Sei dos seus filhos eu teria lhe atendido!