• Narrativas pias populares

A passagem da Sagrada Família

              Numa época muito distante, no tempo em que Nosso Senhor andava pelo mundo, São José e sua esposa Maria eram andarilhos, caminhavam por esse mundo de meu Deus levando Jesus ainda menino. José ia a frente, puxando um jumento que carregava em seu lombo Nossa Senhora e Jesus Menino. A família fugia desde a perseguição do rei Herodes que procurava o menino Rei para matá-lo por medo de perder o seu reinado.

              Numa dessas andanças pelo mundo, a Sagrada Família passou pelo sítio Oliveira, em Luís Gomes, num lajedo hoje conhecido como Lajedo de Zé Gonçalves devido a um senhor que morava perto dessa pedra. Pararam para descansar. São José se sentou, tirou suas botas que estavam fazendo calos e deixou que os seus pés respirassem. O menino desceu do jumento, correu pelo lajedo, brincou até cansar. Nossa Senhora aproveitou para rezar sentada nas pedras e caminhar pelas pedras pensando no bem do mundo. Depois São José ajudou Maria e o Menino a subirem no jumento. Seguiram viagem pelo resto do mundo para o Menino conhecer os lugares criados por seu Pai.

             Até hoje lá estão as marcas de bota de São José e dos pezinhos de Maria e do Menino Jesus. Eu vi as pegadas, até o buraco do cajado onde José se escorou estão lá. Para provar que Nosso Senhor andou no mundo todo.

                                                                                          Conto narrado por dona Isabel Maria da Conceição, da Vila São

                                                                                 Bernardo em Luís Gomes. Adaptado por Ciro Leandro.  

             

                                                                                          Dados da pesquisa “Memória, narrativa e identidade regional”:

                                                                                 Um estudo sobre os contadores de histórias do Alto-Oeste Poti-

                                                                                 guar.

  • Contos maravilhosos ou de encantamento

A lenda da moça da pedra encantada

 

             Num tempo sem ambição, em que havia reis e rainhas no mundo, morava uma princesa encantada numa pedra. Essa pedra tinha a forma de uma casa e em frente a casa aparecia um lago de sete em sete anos.

 

            Nas noites quando os caçadores andavam no mato procurando veados, tiús e outras caças, a princesa encantada aparecia e com seu canto mágico prendia os caçadores, que não conseguiam se libertar do encanto. Pior ainda se olhassem para trás.

 

            Um vaqueiro que saiu a noite a procura de uma vaca perdida no mato ouviu o canto da moça encantada. Tremeu de medo, arrepiando-se todo. Como não tinha olhado para trás, pôde correr e fugir do canto. Vários vaqueiros também viram uma mesa posta com um banquete real em frente a casa e um tesouro, como se fosse uma botija. Porém, somente pessoas de um bom coração poderiam ter acesso ao banquete e a riqueza, desencantando-as.

 

           Uma moça velha ao lavar roupa no riacho próximo a pedra encantada viu a moça encantada. Assustada, contou para a sua família e como castigo morreu três meses depois. Segundo a narradora, era uma tia sua e foi assim que soube da história.

           Até hoje a moça está lá esperando um príncipe de bom coração para libertá-la e poder ficar com a sua riqueza como dote, já que ela foi encantada num tempo sem ambição...

 

                                                                                                Conto narrado por dona Raimunda de Juliana, do sítio Santo

                                                                                       Antônio em Luís Gomes. Adaptado por Ciro Leandro.

 

                                                                                       Dados da mesma pesquisa.

 

Obs: Ver artigo que fiz no CD do SINALGE que dá sugestões de interpretações dessa lenda e fala sobre os contadores de histórias. Keutre pode contribuir muito com as transcrições de contos da sua dissertação cujas convenções de transcrição podem ajudar na contação de histórias. Ela sinaliza onde o contador aumenta e diminui a voz, faz gestos e essa performance da narradora estudada em sua pesquisa pode ser imitada pelo professor/contador de histórias. Se ela autorizar, é uma grande contribuição ao observatório. Cleonildo também possui uma rica coleta de contos da região.

 

ciro leandro